Não aguento mais perdas.
2015 foi um ano de desaparecimentos definitivos - pelo menos fisicamente - de pessoas que me eram muito queridas. Mas a notícia que acabo de receber, representa uma das maiores perdas do ano. Comecei 2015 a perder a pessoa que mais cuidou de mim quando era menina. Termino o ano com a perda da pessoa que mais cuidou de mim na vida adulta. No primeiro caso, era esperado devido a doença. No segundo, deveria ser algo esperado tendo em conta a idade... mas sendo alguém que já ultrapassou tanta coisa, porque não ultrapassar mais uma? "Ela é forte. Sempre se aguentou." Pensava eu enquanto me diziam "Ela está muito mal". Mas já tinha estado muito mal antes e sempre acabava por me dar aquele abraço, aquele beijo forte, acompanhados por mais uma lição de vida. Não era minha avó de sangue, mas era avó do coração. E eu não vou poder lá estar para me despedir dela. Porque as pessoas que me encaram como uma adulta na hora de resolver problemas, tratam-me como uma menina nestes momentos, procurando-me proteger ao esconderem-me a notícia. Esqueceram-se é que hoje em dia há redes sociais, telemóveis e mensagens onde tudo se sabe e eu fiquei a saber da pior maneira e no pior momento. Tenho hoje, à mesma hora em que se realiza o funeral, uma reunião super importante. Sei que me posso despedir depois mas não será a mesma coisa. E pior de tudo é que sinto-me a chegar ao meu limite de recursos para manter a capa de miúda/mulher sempre alegre e bem-disposta. Neste momento quero desabar. Quero não ter que me recompor. Quero não ter que terminar a apresentação. Quero-me descontrolar. Quero colocar "esta dor que grita bem cá dentro" toda cá para fora. Quero gritar que não aguento mais. Não aguento mais cuidar e não ser cuidada... e hoje, hoje sinto que perdi um bocadinho mais de hipóteses de ter quem cuidasse de mim.
E sei que não devia pensar nisso agora... mas assusta-me vislumbrar a ideia de que até ao final do ano é provável que mais uma perda venha a acontecer... se é que já não aconteceu...