Provavelmente vais ficar espantado por receberes esta carta. Mas neste momento escrever é o melhor meio que encontro para poder exprimir-me de forma clara e sem os receios que têm
surgido ultimamente quando estou cara a cara contigo. Acho que já devíamos ter falado há muito tempo atrás. Mas da
minha parte houve sempre receio e ao mesmo tempo esperança que as coisas
melhorassem. Mas, pelo menos para mim,as coisas foram ficando cada vez piores.
Já mais do que uma vez te disse que não me eras indiferente.
Desde que te conheci que foi assim. Gostei
de ti desde o início, gostei do teu ar enigmático e fiquei sempre curiosa em
relação a ti. Por isso sempre fui metendo conversa contigo. Queria saber mais
de ti. Mas tu não permites que isso aconteça e acabaste por saber muito mais de
mim do que eu alguma vez consegui saber de ti. Quando começámos a falar a
minha vida estava um caos e tu fazias me sentir bem. Era quase terapêutico. Atenção que nunca te procurei, nem tinha
esta curiosidade com segundas intenções.
Tratava-se só de conhecer alguém, nada mais do que isso. Mas tu foste me
cativando. Davas-me apoio, fazias me sentir bem, especial, eras super perspicaz e muitas
vezes ajudaste-me a ver as coisas de outra forma. Quando me dizias que eras "desligado" nunca quis acreditar porque, pelo menos, comigo nunca o foste.
Agora quase dois anos depois e de tanta coisa ter acontecido tenho que te dar
razão. Não sei se te lembras de me teres convidado para ir ver o carnaval de
verão. Quando me levaste ao carro perguntaste porque fui, se era porque o trabalho não estava a ir bem ou por outros motivos. Menti na resposta que te dei.
É claro que fui para estar contigo, para te ver. Foi o meu pânico nessa resposta que me alertou para o facto de poder estar a sentir por ti mais do que amizade e por isso tentei
afastar-me um pouco. Não queria confundir as coisas. Mas de repente era verão e começámos a estar sempre juntos. Acho que
seria errado negarmos termos entrado num certo jogo de sedução, aí sim, em
alguns momentos, com segundas intenções. Há uma noite que me lembro
particularmente bem. Foi no fim de semana antes do festival. Não parávas de dizer que estava muito bonita, estavas super espontâneo e, no final da noite, não paravas de insistir para eu ficar e ir até a casa do teu
primo. Aquela despedida marcou-me. Um abraço super prolongado e no final
uma vontade enorme de te beijar e, ainda por cima, uma vontade mútua. Mas tive medo.. porque sabia que me estava a apaixonar. Mas fui negando e escondendo, sem nunca ter a coragem de falar contigo, mesmo achando que era mútuo. Até que a notícia da partida veio precipitar muito as coisas. Não me arrependo nada
daquela noite em tua casa, mas a tua postura logo a seguir fez me duvidar. As
nossas conversas nunca mais foram as mesmas e tu que sempre me fizeste sentir
especial, de repente já não o fazias. Quando falávamos, as tuas respostas eram distantes. E muito honestamente,
apesar de saber que não tinhas de o fazer, não gostei que não tivesses dito nada quando regressaste e ainda menos fui gostando à medida que o tempo foi passando e tu continuaste sem dizer nada e sem te preocupares em dar resposta a algumas sms. Era como se não te importasses sequer em manter a amizade. Mas o episódio
do carnaval, contigo a enviar sms à minha procura mais não veio do que confirmar que ainda havia ali alguma coisa e que durante aqueles meses todos aquele silêncio
eramos nós a não saber lidar com a situação. Mas ias partir novamente. Gostei do convite para a nova despedida.
Não tinha porque não ir. Tu nunca foste para mim um amigo de circunstância e
apesar de tudo continuava a gostar de estar contigo. Não tinha “remorso” ou problemas
em relação ao que se tinha passado lá pa trás. Mas aquela sms ao jantar, tão
direta e inesperada mexeu comigo. Desta vez não tinha porque “esconder” a minha atração
por ti. Era mais do que óbvio para os dois. E se “awesome” é um dos adjetivos que mais gostas, então awesome é de facto aquilo que és. Essa noite foi mto
significativa. Adorei mesmo. Não só nos deu oportunidade de esclarecermos
coisas, como voltámos a falar normalmente depois disso. Uma vez disseste me “se
as circunstâncias fossem outras isto até era uma coisa que poderia dar certo”.
Naquela manhã lamentei mesmo muito as circunstâncias e achei que nunca estiveste
tão certo. E depois, no meio do último
abraço, à porta de tua casa perguntas-me “até daqui a 4 meses, pode ser?” É claro que naquele momento disse que sim! Mas 4 meses é demasiado tempo e tu não me davas garantias de
nada. A vida tinha que seguir em frente e o teu silêncio e falta de procura só
confirmavam que não podia alimentar coisas. Tu ias voltar, mas quanto tempo iria demorar até partires novamente?
Mas aquela noite
absolutamemte fantástica da tua festa de boas vindas desarmou-me completamente e
veio trazer a tona muita coisa que eu achava que tinha ficado lá atrás. E tu parecias lembrar-te do “até daqui a 4
meses, pode ser?” com todo o jogo e importância dada naquela noite. Nao vou
mentir: criaste demasiadas expectativas nessa noite. As circunstâncias agora estavam a nosso favor. Íamos passar mais tempo juntos o que seria bom para
vermos se alguma coisa tinha mudado e ver o que poderia acontecer. Mas lamentavelmente, a minha perceção das coisas desde aí
não é boa. Não me queria sentir assim, sou otimista e procuro ter pensamentos
positivos. Mas um negativismo apoderou-se de mim e da forma como tenho
interpretado as coisas. Algo mudou sim. Não sei se foi pelas expectativas que criaste naquela noite, mas fiquei sempre à espera que algo mais acontesse entre
nós. Não estou com isto a querer dizer que esperava ter uma relação mais seria
contigo neste momento. Mas pelo menos recuperarmos algum do tempo, reavivar a amizade, a relação e percebermos o que fazer com esta atração mais do que óbvia um pelo outro e com outros sentimentos que houvessem à mistura.
Mas fui-me
apercebendo que se calhar não havia nada para esperar e pela primeira vez, não só concordei com o seres desligado, como te achei arrogante e egoísta. Eu não sei se já te apercebeste, mas nós deixámos de falar. Em grupo falamos dentro do contexto das
conversas que temos, mas eu e tu não falamos. Partilhamos muito pouco e um fosso foi crescendo, pelo menos da minha parte. Deixei de ser capaz de te procurar na net ou de ter qualquer iniciativa
contigo... mas talvez porque comecei a achar que tu não queres saber. Comecei a achar
que tu não fizeste mais do que ver se eu continuava disponível para ti e que só
me procuras para brincarmos um bocado. Não teria nada contra uma espécie de
"friends with benefits". Mas não assim, connosco desconfortáveis e
distantes durante o dia ou a maior parte do tempo e descontrolados e cheios de
desejo quando bebemos um bocado mais. Quero estar bem
contigo e acima de tudo quero sentir-me eu quando estou contigo. Mas para isso
preciso perceber o teu tom de arrependimento, preciso perceber o que é que não pode voltar a acontecer, perceber o que é que tu queres. Preciso de explicações, quer elas me magoem ou não. Lembras-te de me teres dito um dia "Vales mais do que a pena"? Pois bem, se estou a fazer isto é porque sinto o mesmo por ti e porque sei que consegui conquistar um lugar especial no teu coração. Caso contrário, porque razão me trarias tu um postal tão especial e tão bom lá do outro lado do mundo, quando sei que só tens desses gestos com quem realmente de importas?
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