E a vontade de escrever voltou. Não que tivesse alguma vez deixado de existir. Simplesmente a vida tem me pregado tantas partidas que, vir aqui, ao meu cantinho, tornou-se a última das minhas prioridades. Algumas dessas partidas não são más, pelo contrário! Outras são realmente péssimas. Escrevo, hoje, triste. Pela terceira vez este ano, aconteceram-me coisas realmente marcantes e positivas para a minha vida e pela terceira vez vi esses momentos de felicidade arruinados pelos meus pais. Sim, aqueles que mais prezo, mais confio, mais dou valor nesta vida, foram os mesmos que, apesar de os saber verdadeiramente contentes pelos feitos que tenho conseguido alcançar, devido aos seus medos, ansiedades, maneiras de ser e "calejado" da vida, me têm estragado momentos tão desejados e finalmente alcançados mas que irão ser recordados por mim, com alguns sentimentos de alegria mas, infelizmente, com tristeza. Muita tristeza e sofrimento que seriam dispensáveis se existisse uma maior abertura para o diálogo, para a aprendizagem, para a partilha sensata e racional e sem resentimentos.
Ao longo destes último meses vi-me a concretizar objetivos há muito almejados: entreguei a tese de doutoramento, o que foi vivido com grande alívio; fiz uma defesa absolutamente brilhante e que me fez acreditar, finalmente, nas minhas competências e no meu trabalho; e, após dois anos de desemprego, arranjei trabalho: primeiro a fazer umas coisinhas aqui e ali, mas, a partir de setembro serei bolseira de investigação, pelo menos durante um ano, no sitio onde queria, com a equipa que queria. Vou assim poder sair da terriola que tanto odeio e amo simultaneamente e regressar à minha cidade do coração: Braga. Volto como mulher independente: vou morar sozinha e pagar as minhas próprias contas na zona em que queria, mas não na casa que, ao visitar, senti que era minha. Esse aliás tem sido o motivo de desavença mais recente com os meus pais. Quis ser correta ao mostrar-lhes as duas opções que me dividiam o coração, mas no fundo com uma escolha já feita. Tudo foi por água abaixo, fizeram-me reconsiderar e eu, mais uma vez, para evitar males maiores no futuro, mas também reconhecendo o poder de alguns argumentos apresentados, coloquei a vontade do meu pai à frente da minha.
Entrei numa luta que terminou com um sentimento de injustiça enorme. O meu pai falhou para comigo quando lhe pedi ajuda e não o admite e para cúmulo, depois de, ao final de uma semana, ter finalmente encontrado uma outra alternativa viável - que agrada a ele mas não a mim - ainda tenho que levar com o mau humor dele, com ele a não me dirigir uma única palavra e ainda ser acusada pela minha mãe de "deixar andar e não resolver as coisas" e de "estar sempre contra ela".
Há muito que trago comigo em sentimento de solidão. Mas nunca me senti tão sozinha e tão abandonada como hoje.
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