Razão ou emoção? Talvez uma das mais antigas lutas da humanidade... o melhor mesmo é tentar equilibrar as duas

segunda-feira, 23 de março de 2015

"Tudo vale a pena quando a alma não é pequena"


A elaboração da presente Tese de Doutoramento foi uma trajetória longa e marcada por inúmeros desafios, incertezas, deceções, surpresas, alegrias e vitórias. Trilhar este caminho implicou a mobilização de uma grande energia, vontade e perseverança que trouxeram consigo força, vigor e uma enorme evolução e crescimento pessoal e profissional. 

Assim começam os agradecimentos da minha tese. Quando entrei na aventura do Programa Doutoral em Setembro de 2010 estava longe de imaginar tudo quanto estava para vir... tanto de bom como de mau. Foi um percurso que começou bem, extremamente bem, mas que se tornou sofrido, extremamente sofrido e solitário. Dizem que é assim mesmo, que "faz parte do processo", mas passei por situações profissionais e pessoais que não desejo a ninguém, vivendo tudo quase sempre sozinha, procurando gerir da melhor forma possível as minhas lutas internas, mostrando uma pequena parte delas a muito poucas pessoas.... muito poucas mesmo. Fui percebendo ao longo do tempo que nem todas as lutas podem ser partilhadas; que nem todos os que se dizem disponíveis estão assim tão disponíveis; que, por muito que custe, há alturas em que temos de selecionar quem nos rodeia, percebendo, de verdade, quem nos faz e quer bem e que é com esses que devemos investir e esgotar os nossos recursos e atenção.  

Ao longo deste percurso e, principalmente, na etapa final pude perceber quem realmente me aceita como sou. Com todos os meus altos e baixos, com todas as minhas dúvidas e incertezas, com todas as tendências de workholic - extremamente necessárias na etapa final. Pude perceber quem eram de verdade os meus amigos, quem esteve sempre comigo, mesmo não estando; quem, apesar das dificuldades das suas próprias vidas, nunca deixou de se lembrar de mim. Entre os psicólogos, é sabido que o apoio social é fundamental na vida de todos nós. Sempre fui uma pessoa sozinha... sozinha com os meus botões, com "as minhas coisas"... talvez ser filha única tenha contribuído para isso. Mas preciso dos meus momentos comigo mesma. Sempre precisei. Mas preciso na mesma medida de saber que tenho bons amigos por perto, a quem me dedico porque merecem e porque sinto neles a mesma dedicação em relação a mim. De todas as experiências que vivi ao longo de todo o percurso do doutoramento, foram as transformações na rede de amigos que mais me marcaram. Talvez o facto de eu própria ter mudado tenha contribuído para essas alterações. Algumas foram uma surpresa positiva, outras nem por isso, outras ainda hoje lamento o modo como terminaram. Mas pelos vistos também isso "faz parte do processo".

Sim, ao longo destes quatro anos e meio (nossa!!) cresci imenso enquanto pessoa e enquanto profissional, Perdi-me, bati no fundo do poço, estive perto de desistir, mas ergui-me sozinha, indo buscar forças, energia e motivação nem eu sei bem aonde. Acima de tudo, sei o que me levou lá, sei o quão mau é estar nessas circunstâncias de vida, sei o quão difícil é a escala até ao cimo do poço e sei que não quero lá voltar. Foi extremamente difícil. Mas passo a passo aprendi a dar valor a mim mesma, aprendi a respeitar-me novamente, a acreditar em mim novamente. Redescobri-me. Apercebi-me de alguns dos meus limites. Procurei contornar uns, ultrapassar outros e aceitar aqueles que não podiam ser modificados. Fiquei espantada comigo mesma e com a minha capacidade de gerir a exaustão, de lidar com adversidade, de me sacrificar, de me auto-motivar, de querer mais e mais. 

A entrega da tese ainda não representa totalmente o fim de uma etapa. Essa sensação só acontecerá verdadeiramente depois da defesa. Mas foi sem dúvida um alívio enorme. Uma sensação de satisfação, de realização pessoal. "Consegui, contra tudo e contra todos." Venci e venci bem. Apesar das coisas más, procurei sempre aproveitar tudo o que me foi sendo proporcionado e encontrar sempre o lado positivo em tudo. Pude viajar, pude contactar pessoas e frequentar grupos e espaços que nunca na vida pensei poder vir a frequentar. Conheci grande parte da Europa, tenho publicações internacionais no meu currículo e tive uma função de relevo numa das maiores sociedades europeias de Psicologia. Aprendi a sonhar, a desejar um bocadinho mais (algo que me incutiram desde pequena que não poderia fazer). A fasquia subiu, mas mantenho os pés na terra. Redefini objetivos e aspirações de vida. Sei agora um pouco melhor do que quero para o meu futuro, tanto pessoal como profissional. Sei também que foge a muitos dos padrões convencionais da nossa sociedade e do meu núcleo de amigos. Sei que ainda vou ter muitas lutas para travar. Mas hoje sou eu pessoa muito mais segura de mim e um pouco mais conciliada comigo mesma. Terminar o doutoramento representa, sem dúvida, uma fase crítica e difícil. Mas, ao olhar para trás, estou tremendamente contente por tudo o me aconteceu e continuo a acreditar que será um esforço que aos pouco será recompensado e terá tudo valido a pena. 


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