Razão ou emoção? Talvez uma das mais antigas lutas da humanidade... o melhor mesmo é tentar equilibrar as duas

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Hiperatividade uma ova!


Mais um texto publicado no Expresso ao qual bato palmas e subescrevo e voltarei a fazê-lo sempre que necessário! As crianças não são hiperativas, são mal educadas diz o título e eu não diria melhor! Acho impressionante como o facilitismo da sociedade de hoje em dia se arrastou também para uma das coisas mais essenciais e básicas para o bom funcionamento (e pode parecer exagerado) da humanidade! E não me venham com histórias! Esta crise económica, entre muitos fatores, tem também a sua base numa crise de valores que, a continuarmos a ter pais com esta passividade incrível, a apontarem o dedo a tudo em seu redor menos a eles próprios no que diz respeito à falta de regras dos filhos, vai continuar a perpétuar-se por muitos e muitos anos! E mais! Meus queridos paizinhos: se acham que estão a fazer muito bem ao vossos filhos, alegando coisas do género "não se pode bater, nem castigar, nem dizer "não" o menino que ele fica traumatizado", enganam-se redondamente! Lido com isto na minha profissão, e sei do que falo. Mesmo em termos cerebrais, estão a penalizar os vossos filhos. O nosso cérebro foi feito para ter algumas regras e precisa delas para se auto-regular e ter alguma perceção de controlo. Ao serem incapazes de dizerem não (e um não até ao fim) vão inibir a regulação emocional dos vossos filhos e impedir o desenvolvimento de estratégias adequadas para a gestão de alguns sentimentos negativos como a frustração, a raiva e a tristeza. Estão, por isso, também a comprometer o desenvolvimento e a vida adulta dos vossos "bijuzinhos"! E quando se lembrarem de pedir ajuda, porque vocês não falharam, não! A criatura é que tem algo nela que não está bem (claro! facilita imenso as coisas se existir uma causa biológica que não podemos controlar, do que assumir que falhámos!!)  venham ao psicólogo pedir explicações, que ele conta-vos uma linda história! E não se preocupem! Ele já vai estar à espera que não apareçam na consulta seguinte após vos ter apontado o dedo ao mencionar "Meu querido pai, lamento informar, mas houve uma parte fundamental no processo educacional em que falharam terrivelmente: transmissão de regras e valores, sabem o que são???". E então vão à procura de outro alguém que confirme a vossa teoria (se é que já não foram antes!) e saiem todos satisfeitos do consultório, a dizerem que aquele é que foi um bom médico, porque disse que "sim senhor, o pequeno é hiperativo e por isso tomem lá a pilulazinha milagrosa que o vai fazer mudar radicalmente, de maneira a que, vocês pais, não tenham mais preocupações!" Desculpem-me, novamente, mas paizinhos, vocês têm de se preocupar, sim!!! E já nem quero falar desses senhores doutores que alimentam estas crenças (e a indústriam farmacêutica também!) sem perceberem grande coisa do assunto. Atenção que não quero generalizar, porque efetivamente, há profissionais responsáveis, que fazem os devidos encaminhamentos e há pais a sofrerem imenso e a terem que realizar grandes alterações no seu dia-a-dia para proporcionarem um equilíbrio adequado ao seus filhos, estes sim, verdadeiramente, hiperativos! A esses faço vénia! Mas enquanto muitos dos pais de hoje em dia forem os primeiros a não quererem refletir e mudar... lamento... mas muito provavelmente, a geração seguinte dos Silvas, Azevedos, Nunes, Pintos, etc... vai ficar seguramente marcada... e assim, é claro que é fácil acreditar que se trata de algo interno e biólogico e  não transgeracional. No entanto, há esperança! As pessoas mudam, as experiências vão-nos marcando ao longo de tempo e portanto, ainda bem, que não há trajetórias pré-definidas! Somos um livro aberto e isso agrada-me imenso! 

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